De Esperanças

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Quando nasce um bebé, nasce uma família. As exigências, alegrias e expetativas da mulher durante a gravidez

Tornar-se mãe inclui a experiência interior da mulher em relação ao seu corpo. Uma nova identidade emergente que envolve o seu bebé real. Há uma reorganização psíquica e neurobiológica a marcar a transição para a maternidade.

A gravidez e o início da maternidade são períodos críticos de transição no ciclo de vida da mulher. Sobretudo na primeira gravidez, há uma transição da mulher enquanto unidade única independente para o início de uma relação de mãe-bebé inalterável e irrevogável. É um processo contínuo e emocionalmente complexo, que se constitui como um período crítico para todas as mulheres, pois há uma reorganização do seu mundo representacional interno.

A partir da gravidez, a mulher deve progressivamente reelaborar a sua representação interna da relação com a própria mãe, permitindo ao mesmo tempo o processo de identificação com o bebé. Os pais, na relação com os filhos, podem reviver involuntariamente a sua própria infância. As identificações da primeira infância das mães com a sua própria mãe são despertadas e comparadas com a realidade do relacionamento com o seu bebé.

Quanto maior for o conhecimento da mãe sobre si própria e as suas emoções, quanto mais ciente dos seus padrões estiver e mais capaz for de reconhecer o significado desses padrões, mais fácil será o espaço para a mudança.

A identificação da mãe com o bebé durante a gravidez e o pós-parto é vital. Permite que a mãe crie um vínculo e se identifique com o seu bebé, desenvolvendo uma conexão, uma sintonia, que lhe permite atender às suas necessidades físicas e emocionais. Também a nível hormonal, há mudanças substanciais que contribuem para essa identificação com o bebé, através do aumento de produção de progesterona e estrogénio. Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, usou a preocupação materna primária para descrever este estado que permite à mãe identificar-se progressivamente com o seu bebé, dando resposta às suas necessidades e, ao fazê-lo, desenvolver o sentimento de identidade da criança.

Ao tornar-se mãe, é importante que a mulher não fique presa no binário transição para a maternidade ou depressão pós-parto. Existem muitas flutuações nos estados mental e corporal da mulher que se torna mãe. Oferecer uma escuta atenta à mulher que se torna mãe, para falar livremente sobre as diversas experiências sem receio de ser julgada, é um bom lugar que a família e os amigos podem criar. O sentir-se à vontade para falar sobre o seu sofrimento, as alegrias, o que é bom e o que é mau, o que é bom e mau ao mesmo tempo. A ambivalência, frustração, preocupação, vergonha, culpa, o bem ou o mal estar no corpo, entre tantas outras experiências, é fundamental para as mães que estão a viver uma transição tão significativa aos níveis neurobiológico e psíquico.

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